terça-feira, 28 de setembro de 2010

Perdas e danos

Ando tão pouco para tudo
ando tão mundo para gesto
ando tão grande e infinita
na sola dos meus pés
desgasto mais um dia.
Colando recordações
em um e outro
empírico momento,
dor é mais que erra.
Uma ponte,
valente preposição,
oposto disposto
a te ver no chão.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A alma do negócio

Deixo brincar meu cansaço,meu tempo.
Se penso demais o instante não vive.
Sou tanta,
sem leve sortimento.



Sou mais em mim,down.
Curo,dorme,enlaça,enleia.
Palavras de um coração que lasseia.
Pulsa metálico,
e arco de vidro,divino.
Cesta básica,sesta,minha inanição.




Derrapo,
meu pai,
minha dor.
O que não posso ser,
posso mais do que eu.
Uma mentira-elefante.
Neologismo lógico não chega a nada.



Nem para o vazio escrevo.
Porque ele não gosta do Nada.
Vai com teu poema-pena para o Inferno!




Em se tratando de poesia,
Desajuste,é a alma do negócio.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um doce,overdose

Estou cansada
de olhar um mundo que não pude
olhar o amor meio amiúde
cavar à cinza escuridão
sentimento forte a que pertenço
todavia um clarão
um ópio escuro
amarro o pé
finjo nisso
amarrar o mundo
porque minha voz pede a pé grossa
vindo nisso o que nunca pude
viva nisso o que nunca pude
o que amarro é uma visão gótica
que planta sementeia
odor de luz de março
saio sem fazer estardalhaço
e a regra geral é simples
eu amo o sujo reto onipresente
momento que pressente
avivando nisso mais coisas
poesia simbolista
um amor de prosa à vista
um amor de prosa viva
quebrando de deleites a escuridão
a escuridão sou eu
sou eu e mais a metade que arde
óleo quente nas feridas
uma boa observação
canto mundo sem metáforas
olho tudo à olhos nada
vivo ponto,exclamação.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

[Diário]




Aqui estou eu tentando fazer um diário dar certo e escrever o que eu realmente penso e sinto.
Estou sempre ressentida com alguma coisa ou com alguém. Hoje,pela manhã,foi com a minha mãe,do nada,tivemos uma discussão, fiquei com os olhos marejados de lágrimas(longe da vista dela claro,que não gosto que me vejam chorando).
Essa sensibilidade toda não vem apenas da doença,ela sempre esteve comigo,sempre fui de chorar inútil(olha a poesia estando aonde não deveria estar! rs).
Continuo me entupindo de remédios, faltando à terapia,dormindo demais, e vez ou outra, fazendo um esforço sobre-humano para parecer ''normal''.
Refletindo sobre a bestialidade catastrófica que foi a minha vida(pode soar exagerado,mas o que digo procede,procede mesmo) tenho as explicações detalhadas do porquê de ter chegado até ao que venho ser agora. Nunca me senti num ''círculo''(nunca me senti amparada),por mais que tivesse brinquedos(minha família não é rica,mas tive alguns privilégios),coisas as quais eu almejasse,parecia que não havia nada. Enquanto eu me tornava esse ser humano sem forma(sem alma,como diria minha querida Sylvia Plath)meus pais se degladiavam em brigas idiotas (para alimentarem seus egos inseguros e despreparados para encarar qualquer relacionamento)sobre o pretexto de ciúme.
Assim crescemos eu e meus dois irmãos,no meio desse conflito egoísta e massacrante que nossos pais nos impunham. Não que nos faltasse roupa,comida,escola,nada disso.
Faltava-nos o principal:amor.
Meu pai era uma pessoa extremamente despreparada para a vida,cheio de traumas(o irmão mais velho morrera num acidente estúpido aos 21 anos,a mãe,sempre o colocara em segundo plano com relação ao irmão que morrera, além de minar sua já muito baixa auto-estima com palavras duras),sensível,covarde,irritante,mandão,dono da verdade,voluntarioso,machista,inseguro,irascível e, também,um suicida em potencial. Sabem aquela do a mão que afaga é a mesma que apedreja? Pois é. Ele era assim comigo.Tanto que ele morreu brigado com a minha pessoa. Às vezes sinto uma falta e uma pena dele desmedida e oca. Noutras desejo que ele queime no Inferno(isso se o Inferno existir mesmo).
Minha mãe é um capítulo à parte. Adora se fazer de vítima pra meio mundo,se queixa de tudo,reclama de sua sorte dia sim outro também;não se lembrando que boa parte das escolhas erradas,infrutíferas e totalmente catastróficas que ela tomou(entre elas me por no mundo) foram resultado dela mesma. Dela para ela ,como acontece com todos nós.
Em suma:enfiou o pé na jaca e agora não adianta chorar nem pedir pra Deus. Ela acredita em Deus ou pelo menos é assim que nos faz crer,embora a muito não frequente mais a igreja e nunca vimos mais rezando ou orando(como dizem os evangélicos).
Hoje ela me trata bem melhor do costumava quando eu era criança. Mas vez ou outra ela volta ao velho hábito e dá um jeitinho de mexer nas minhas vísceras. Creio ser ela a grande responsável pela bela bosta de estrutura psicológica(?) que tenho. Fez a merda e ainda não quer consertar(reclama de tudo,desde o preço dos remédios,ao tempo perdido em consultas com psiquiatras e psicólogos).
Ela é indiferente a mim.Uma criança não precisa que alguém lhe diga que ela não é amada,ela sente isso.
Da mesma forma que sinto um amor-ódio sem precedentes pelo meu pai, sinto também por ela. No entanto,a conta dela é mais alta. Mãe é coisa muito forte,muito forte de amor.Ou pelo menos,é o que deveria ser.




Estou muito sensível hoje.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010





O poema que resume a minha vida


Estou de tal forma
doída do mundo
que não basto metáforas.


Um filme em preto e branco
Um semblante
Um modo sobreposto de existência
Onde nada o infinito
(minuto da dúvida)
Onde o amor é mais bonito
E não faço prosa.


Circunspecta repousa
a dor que num vôo rasante
acaba os sonhos,devora esperanças
e ergue um poema.





Calada retraio
de soslaio
a Vida.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A morte adula a morte

Não tenho vontade de admirar o vasto,o espelho que ouve.Não que eu seja frase,inocente.A par demais se tem angústia.Sou do tipo que se agarra a dor até não poder mais.Até não doer mais. Talvez seja esse o único jeito de me sentir viva.Todos os processos me são medo.Agora pouco acabou de passar:eu sou a vergonha dos meus próprios olhos.Quando segurei o passarinho entre meus dedos,ele já estava doente,asmático...depois parou de respirar e morreu.


A morte adula a morte.